"Falar é uma necessidade, escutar é uma arte." - Goethe


Eu digo: Escrever é uma terapia. Ler o que escrevo é uma insanidade.

terça-feira, 23 de março de 2010

A busca de Eduarda.

Eduarda já teve algumas decepções amorosas.
Mas aquela foi a que magoou n’alma. Perdeu o chão e os sentidos...
Entretanto, ela sabia que tinha uma boa parcela de culpa em todo aquele sofrimento, visto que depositou esperanças em um ser desalmado, ou melhor, sem coração.
Sonhou sonhos altos que nunca passaram de meros devaneios de uma mente apaixonada e alheia à realidade.
Quando o fim chegou, foi difícil acreditar que nada daquilo, que era tão verdadeiro e certo, não seria concretizado. Foi como se um tiro tivesse rompido-lhe a carne e dilacerado o seu coração e posto fim em seus sonhos de vida. Só que estava viva e com um rombo no coração.
Recomeçar. É, teria que recomeçar. Como é duro recomeçar!
Mistos de sentimentos subiam-lhe da cabeça aos pés: raiva, ódio, decepção, mágoa, esperança, amor. O que fazer com seus sentimentos? Teve vontade de gritar e expor ao mundo sua dor, expor ao feitor de toda aquela mazela, mas de que adiantaria? O sofrimento cessaria? Nada como o tempo para ajudar-lhe a recolher os seus cacos e reconstruir, reinventar a si mesma. Mas como o tempo demora a passar, meu Deus!!!
Será que um novo amor apaga mesmo o antigo, como todos dizem?
Precisava do tempo para descobrir...
Eduarda tem consciência de que somos todos passantes nas vidas uns dos outros. Só que ela busca um amor imortal, eterno. E fantasiou que poderia ser ao lado daquele ser, embora, no fundo, no fundo, soubesse que não era. Talvez, tenha sido uma autodefesa inconsciente de não querer passar por tudo de novo, ou seja, recomeçar um novo relacionamento. Então, se agarrou naquele como se fosse sua última esperança de concretização de amor aos moldes românticos. Foi tola!!! Ele estava longe de ser um cavalheiro e o pior, nunca enxergou a magnitude e grandiosidade daquele ser, frágil e forte ao mesmo tempo, que estava ao lado dele.
“Eduarda esqueça esse ser. Ele não te merece” – ouviu de dezenas de amigos.
“Largar uma mulher bonita e inteligente como você é burrice” – ouviu de outros.
“Amiga, coisa melhor virá” – Essa é uma frase típica que não deve ser dita nesses momentos de sofrimentos, porque não é o que a pessoa quer ouvir realmente.
Curiosamente, o que mais magoa Eduarda foi ter ouvido de terceiros que o indivíduo tinha dito que ela fora sua melhor namorada.
Deveria ser motivo de orgulho, mas Eduarda ainda não se recuperou da tristeza de ter sido abandonada. Do que adianta ter sido a melhor namorada se ele não a quer?? O erro estaria nela, ou nele? Ou será culpa do Destino?? Milhões de perguntas perpassaram pela cabeça de Eduarda, que tentou se esquivar delas. Porém, é difícil calar uma alma apaixonada e ferida. É difícil apagar as chamas de uma paixão no seu auge.
E o mais engraçado nisso tudo – Seria trágico, se não fosse cômico – é que o sujeito, desde o término, a procura incessantemente. Não porque queira voltar, mas ele está acostumado a terminar os relacionamentos, e detalhe, sempre pelo mesmo motivo – ciúmes por parte delas (Estranho, não? Serão todas psicopatas enciumadas?), e depois quer que elas sejam suas melhores amigas. Nossa, que ser superior, não é mesmo? Ou seria alguém sem coração, realmente? Ou um ser egocêntrico e egoísta?
Ele nem deu um tempo para ela respirar e engolir o “chute na bunda” e já a convidou para um choppinho.
( Esse cara é incrível!! É um típico malandro rodrigueano, não acham? )
Eduarda, nossa pobre mocinha, embora quisesse dizer-lhe milhões de desaforos, decidiu por calar-se. Já tinha falado demais ao longo do relacionamento e percebeu que despejar em cima dele toda sua decepção e raiva, não mudaria as coisas – como já tinha sido dito anteriormente.
Deveria recomeçar e ignorar.
Só que a vontade de vomitar restos de palavras entaladas em sua garganta não saiam de sua cabeça. . .
Queria dizer-lhe que fora um imbecil e moleque. Que o que ele tinha para lhe oferecer era muito pouco, que dinheiro é dispensável, pois não entra no céu. Que as expectativas dele com relação a um relacionamento são surreais. Que era para ele enfiar naquele lugar a lembrança que ele trouxe da viagem, que foi um dos motivos do rompimento (Este planejou uma viagem sem ela no Reveillon). Mas o que mais feria Eduarda era ter ouvido que ela o fazia mal. Então, porque ele fazia tanta questão de sua amizade? Perguntas e mais perguntas e quais seriam as respostas? Concluiu que era melhor não sabê-las, porque no fundo já as sabia. Será mesmo?
Nisto, Eduarda deu tempo ao tempo... Ergueu sua cabeça, sacudiu a poeira e deu a volta por cima. Neste ínterim, beijou outras bocas, deitou em outros braços, ouviu novas juras de amor. Embora seus ouvidos estivessem cansados de ouvir canções tão velhas... Mas não poderia deixar se abater pela descrença no amor e tampouco, na descrença de que não era merecedora realmente de tais palavras, de não ser realmente merecedora de um grande amor. O que Eduarda realmente quer é um amor destes de cinema, cheia de peripécias e reviravoltas, com lágrimas, mas que no final, o mocinho termine com a mocinha. Um amor que não acabe com o tempo e que permaneça mesmo com adversidades. Um amor na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte os separe! E, enquanto este amor não acontece, espera numa insólita candidez a resposta ao tempo...

Batidas na porta da frente
É o tempo
Eu bebo um pouquinho
Prá ter argumento
Mas fico sem jeito
Calado, ele ri
Ele zomba
Do quanto eu chorei
Porque sabe passar
E eu não sei
Num dia azul de verão
Sinto o vento
Há fôlhas no meu coração
É o tempo
Recordo um amor que perdi
Ele ri
Diz que somos iguais
Se eu notei
Pois não sabe ficar
E eu também não sei
E gira em volta de mim
Sussurra que apaga os caminhos
Que amores terminam no escuro
Sozinhos
Respondo que ele aprisiona
Eu liberto
Que ele adormece as paixões
Eu desperto
E o tempo se rói
Com inveja de mim
Me vigia querendo aprender
Como eu morro de amor
Prá tentar reviver
No fundo é uma eterna criança
Que não soube amadurecer
Eu posso, ele não vai poder
Me esquecer

Nana Caymme




Ps. Qualquer semelhança com nomes ou fatos reais terá sido mera coincidência.

Um comentário:

  1. Nem conheço essa tal Eduarda, mas me sinto tão próxima dela.
    Fabi, fala pra ela que viver à flor da pele é sentir o perfume da vida, em si mesmo, muito melhor do que os outros.

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